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Qual é o futuro do capitalismo das partes interessadas?

O anúncio de que duas lideranças que sempre estiveram à frente do chamado capitalismo das partes interessadas estão próximas da aposentadoria desperta receios que o conceito de negócios sociais possa ser enfraquecido.

Os dois líderes influentes do capitalismo social são Klaus Schwab, presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, e o CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, sendo que este último indicou que deverá sair nos próximos cinco anos.

Acredito que, mesmo que a troca de guarda de dois líderes representativos dos negócios sociais possa ter impacto, o contexto atual de emergência climática não oferece espaço para empresas ou instituições continuarem focadas somente em resultados financeiros.

As catástrofes climáticas chegaram para ficar – e vão exigir de todas as lideranças, públicas e privadas, uma postura sustentável em termos de meio ambiente e na promoção de maior igualdade social. O mundo está mais complexo e com risco extremo de “explosão climática”, como nos mostra a tragédia das enchentes no Sul.

É certo também, e lamentável, que o conceito do capitalismo social sofre ataques e tem muitas incertezas a enfrentar, mas a urgência em salvar o planeta poderá conscientizar muitas lideranças a se tornarem multiplicadores e defensores de um mundo corporativo mais justo e mais preocupado com o meio ambiente.

O movimento “stakeholder capitalismo” surgiu em 2019, quando a “Business Roundtable”, presidida na época por Dimon, abraçou o conceito. Como lembrou o editor da principal newsletter para executivos, a CEO Daily, Peter Vanham, na edição de 22/5, mais ou menos na mesma época Schwab redobrou seu “Manifesto de Davos”, ao pontuar que “o objetivo de uma empresa é envolver todos os seus stakeholders na criação de valor partilhado e sustentado”.

A pandemia da Covid-19 empoderou o conceito, mas a reação veio no pós-Covid, com muitas demissões efetuadas em empresas adeptas ao movimento, que também aumentaram preços e recuaram no ativismo político.

Este é o motivo pelo crescimento de temores relativos ao enfraquecimento ainda maior do capitalismo social. Mas há vozes representativas que compartilham da minha visão, como a do reitor da IMD Business School, David Bach, que conversou com Peter Vahham, e disse ainda estar otimista quanto ao conceito, porque questões como as alterações climáticas e desigualdades sistêmicas não vão desaparecer.

As empresas, acredita ele, continuarão a agir nas questões sociais, econômicas e ambientais, porque essas importam tanto para elas como para os públicos interessados. Eu comungo dessa crença, mesmo sabendo que o ativismo anti-ESG possa ter crescido e que companhias e marcas falem menos sobre sua crença em ESG. A saída de duas altas lideranças pró-capitalismo social terá impacto, mas outras vozes influentes certamente virão.

  • Miriam Moura é jornalista, Consultora-associada e curadora de conteúdo da Oficina Consultoria
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